Quatro trechos do livro "A brincadeira", de Milan Kundera. Todas as partes são de capítulos do personagem Ludvik.
Independente dos trechos descritos, que soltos não dizem nada da história, o mote do livro me lembrou um pouco "A piada mortal", do Batman. A teoria de que um dia ruim pode mudar toda a vida de um homem. (Aliás, o segundo lembrou o primeiro, já que este fora escrito mais de vinte anos antes). E quando muita gente fala a mesma coisa, pode ser que seja verdade. Mesmo que o Batman não concorde.
"Tomei um velho bonde de bitola estreita que percorria um caminho cheio de curvas, caminho esse que ligava entre si os distantes bairros de Ostrava, e deixei-me levar ao sabor do vento. (...) Toda essa periferia interminável de Ostrava, em que se misturaram estranhamente as fábricas e a natureza, os campos e os depósitos de lixo, os bosques de árvore e os entulhos, grandes prédios e casinhas campestres, me atraía e me perturbava de maneira extraodinária; tendo deixado definitivamente o bonde, comecei um longo caminho a pé: contemplava, quase com paixão, a estranha paisagem e esforçava-me por decifrar-lhe o sentido; procurava o nome daquilo que confere unidade e ordem a esse quadro tão disparatado; passando perto de uma casa idílica coberta de hera, percebi que ela estava em seu verdadeiro lugar aqui precisamente porque não combinava de maneira alguma com as altas fachadas repugnantes que se erguiam nas proximidades, nem tampouco com as silhuetas das escoras, das chaminés e dos altos fornos que lhe serviam de pano de fundo. (...) Essas incompatibilidades me perturbavam, não apenas porque elas me apareciam como o denominador da paisagem, mas, sobretudo, porque eu enxergava nelas a imagem de meu próprio destino, de meu exílio aqui; e, naturalmente, tal projeção de minha história pessoal na objetividade de uma cidade inteira me proporcionava uma espécie de consolação; eu compreendia que não pertencia a esse lugar, como a ele não pertenciam o chorão e a casinha coberta de hera, como a ele não pertenciam as ruas curtas que levavam a lugar nenhum, ruas compostas de construções disparatadas; eu também não pertencia a esse lugar, outrora alegremente rural, agora com essas horrendas quadras de barracos baixos, e me dava conta de que era porque eu não pertencia a esse lugar que meu verdadeiro lugar era aqui, nessa consternadora metrópole de incompatibilidades, nessa cidade cujo abraço implacável envolvia tudo o que era estranho em si." p. 71-72
"É, agora eu via isso com clareza: a maioria das pessoas se entrega à miragem de uma dupla crença: acredita na perenidade da memória (dos homens, das coisas, dos atos, das nações) e na possibilidade de reparar (os atos, os erros, os pecados, as injustiças). Uma é tão falsa quanto a outra. A verdade se situa justamente no oposto: tudo será esquecido e nada será reparado. O papel da reparação (tanto pela vingança quanto pelo perdão) será representado pelo esquecimento. Ninguém ira reparar as injustiças cometidas, mas todas as injustiças serão esquecidas." p. 304
"'Se as montanhas fossem de papel,
se a água se transformasse em tinta
e as estrelas em escribas,
se todo o vasto mundo quisesse escrever,
ninguém chegaria ao fim
do testamento do meu amor'
cantava Jaroslav, sem desgrudar o violino do peito, e eu estava feliz com essas canções (na cabine de vidro das canções), em que a tristeza não é superficial, o riso não é um rito, o amor não é risível, o ódio não é tímido, em que as pessoas amam de corpo e alma (sim, Lucie, de corpo e alma), em que a felicidade as faz dançar e o desespero faz com que se atirem no Danúbio (...). Parecia-me que no interior dessas canções se encontrava minha saída, minha marca original, o lar que eu traíra, mas que era mais ainda meu lar (já que o lamento mais pungente vem do lar traído); mas eu compreendia ao mesmo tempo que esse lar não era deste mundo (mas que lar é esse, se não é desse mundo?), que tudo o que cantávamos era apenas uma lembrança, um monumento, a conversa imaginária daquilo que não existe mais, e sentia que o chão desse lar fugia dos meus pés e que eu escorregava, com a clarineta nos lábios, na profundeza dos anos, dos séculos, numa profundeza sem fundo (onde amor é amor e dor é dor), e pensava com espanto que meu único lar era justamente essa descida, essa queda, indagadora e ávida, e abandonava-me a ela e à volúpia de minha vertigem." p. 324-325
"Compreendi que me era impossível anular minha própria brincadeira, quando eu mesmo e toda minha vida estamos incluídos numa brincadeira muito maior (que me suplanta) e totalmente irrevogável". p. 298-299
KUNDERA, Milan. A brincadeira. São Paulo: Círculo do Livro, [1988].
O terceiro trecho é a prova cabal da culpa do Kundera naquele incidente de traição.
ResponderExcluirok, você venceu. vou pegar o livro na biblioteca. =)
ResponderExcluirp.s.: bonita foto, dá até vontade de ser comunista. hahahaha.
g, h, i, j... ;p
ResponderExcluirnão entendi!
ResponderExcluirVeja a assinatura de todos os que deixaram comentários. Parece disco furado, engasgado para chegar nas outras letras, hahah.
ResponderExcluirF. disse.
f. disse.
F.F. disse.
E tb acho que o Kundera nao tirou essa história da cabeça dele, mas é difícil julgar os jovens. Ainda mais comunistas (mão amarela).
hahahahaha. mão amarela foi ótima.
ResponderExcluiracho que o sistema de comentários está sendo controlado pelo grupo extremista efistas unidos.
"If you are not into F, you are not my friend"
ResponderExcluirgrupo extremista efistas unidos: FFFF - Fight for the Freedom of The F's!
ResponderExcluirNossa, acho que tomamos ácido.
hahahahahaha
ResponderExcluiro primeiro decreto oficial depois da tomada de poder será a abolição de todas as outras consoantes, só deixando livres as vogais, que dão apoio ao f.
fasfa fa fifófia, fiefffe!
Hahhaha
ResponderExcluirO Presidente de honra pode ser o Fidel!
E em matéria de falar "affim" com a língua presa, acho que o Felipe Massa poderia ter um papel de destaque. Talvez ministro dos esportes.
claro.
ResponderExcluirsó não inventa colocar algum fernando na presidência.
hahahahaha.
É verdade. Como diria o célebre ditado: diga-me com que F andas, e eu te direi se são fezes.
ResponderExcluirhahahahahaha.
ResponderExcluirvocê acaba de receber o título "fofofis faufa" pela criação do letreiro da bandeira do reino da efelândia.
Hhaha.
ResponderExcluirMeu discurso de agradecimento vai ser: povo da efelândia, vocês são FODA!
(trad. livre)
Meu novo passatempo. ;P
ResponderExcluirbrincadeira é ver esse post há QUATRO meses!
ResponderExcluir=P